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Na fazenda da avó em Cantagalo, interior fluminense, o jovem policial costumava treinar sua habilidade incomum no manejo de armas ao usar uma pequena e precisa 22 alemã para tirar manga, pelo talo, e com uma 45 apagava vela a 15 metros de distância. Por essas e outras, o delegado aposentado Hamilton Monnerat Ventura foi apelidado por um jornalista de sua época como "o gatilho de ouro". Mas também poderia ser chamado, como toda justiça, de "o delegado de ouro", por sua ilibada trajetória policial isenta de qualquer advertência e repleta de menções de honra, medalhas e até um troféu - o de melhor Metropol de 1997 - exposto na Academia de Polícia do Rio de Janeiro. Monnerat foi técnico administrativo do Estado da Guanabara, secretário do colégio Liceu Nilo Peçanha e depois secretário do Departamento de Ensino Médio da Secretaria de Educação Estadual. Tudo isso antes de optar pela carreira de delegado de polícia, que surgiu - diz ele - devido a circunstâncias. "Estava fazendo concurso para promotor em 1964 e, apesar de ser aprovado junto com Roulien Pinto Camilo e Edésio Batista Albino, não fomos empossados. Só que depois de um ano fizeram outro concurso e não chamaram o pessoal que estava no cadastro. Com isso, resolvi não perder mais tempo e fiz o concurso para delegado. Fui aprovado e nomeado em 30 de dezembro desse mesmo ano", conta. A partir daquele momento, Monnerat iniciava uma gloriosa trajetória policial, cujo capítulo final iria "ao ar" somente 39 anos depois, em abril do ano passado, ao aposentar-se compulsoriamente. Primeiro, foi destacado para Niterói como delegado adjunto do distrito policial, "onde trabalhei um dos melhores delegados que conheci em toda minha vida. Seu nome era Luís Gonzaga Alarcão. Esse delgado foi um dos homens mais preparados pela polícia do antigo Estado do Rio de Janeiro e era, sobretudo, um homem de bem, com uma moral sem reparos. Com ele aprendi muito do que iria levar para toda a carreira. E foi exatamente a questão moral que me guiou nos momentos mais difíceis", lembra. "Em 1966, passei a titular em Teresópolis, sendo depois designado delegado especializado em roubos e defraudações do Estado, função na qual fiquei quase dois anos. Em seguida, fui para a regional de São Fidélis para resolver alguns problemas. Fiquei 20 dias e retornei a Teresópolis, em 1968, e lá permaneci durante 12 anos. Retornaria ao Rio para ser titular da 23ª DP, no Méier. Depois titular da 29ª, em Madureira, passando também pela 26ª Todos os Santos e a 38ª DP, em Irajá. Então assumi um dos cargos mais importantes de minha carreira, ao ser chamado pelo secretário de Segurança do primeiro Governo Leonel Brizola para ser diretor da Polícia Especializada. Lá permaneci quase dois anos e depois retornei a Teresópolis, onde ficaria mais 8 anos como delegado regional", resume o delegado. Volta às origens Hamilton Monnerat voltaria ainda a Niterói, onde começou, mas então como delegado regional, substituindo Eraldo Gomes, ex-secretário de Polícia Civil. Uma verdadeira honra. No segundo Governo Brizola assumiu como delegado superior de dia. E, depois, passou a diretor da 34ª Metropol, da Tijuca, sob o comando do então chefe da Polícia Manoel Vidal. "Uma das autoridades policiais mais dignas do Estado do Rio", elogia, lembrando que de suas mãos recebeu o troféu de melhor Metropol do ano de 1997, junto com o comandante da PM e dos Bombeiros. Ao se aposentar, em abril de 2003, estava como titular da delegacia regional de Angra dos Reis, a 8ª DRPI. Esta é a vida de um homem que nunca foi punido ou chamado a atenção. Recebeu a medalha Tiradentes e várias outras e presidiu a Associação de Delegados de Polícia do antigo Estado da Guanabara por mais de um ano. Atualmente, integra o Conselho de Ética da Adepol-RJ, "o que muito me honra, poder participar da administração de Wladimir Reale", destaca Monnerat. "Sou do time em que a autoridade policial tem que ter compostura e saber viver. Dar exemplo para os filhos e para as novas gerações de policiais, e não ficar apenas falando", ensina, recitando o verso de um poeta desconhecido que sempre leva em sua memória: "A vida é o dia de hoje. É o ar que o mar suga, é o sonho que foge, é nuvem que voa"... Casos de destaque Monnerat e sua equipe trabalharam na resolução do famoso caso do 'Bracarense'. Prendeu o secretário do desembargador e todos seus cúmplices, acusados do crime. Outro caso de repercussão foi o do assassinato de uma médica numa garagem de um prédio na Tijuca. "Na época, pesquisando, descobri em São Gabriel, no Sul do Brasil, um crime idêntico de uma médica que foi morta brutalmente. Desconfiado, mandei meus policiais até lá para averiguar o acusado que estava preso. Descobrimos então que era um médico, o mesmo autor do crime da Tijuca. Nossa unidade foi a que mais apurou homicídios em 1997, por isso recebemos o troféu de melhor Metropol", declara. O delegado lembra ainda de um outro crime, um desvio de bens de uma agência do Banco da Bahia. "Eu apurei que todos os bens haviam sido desviados pelo próprio gerente. Foi um trabalho e tanto em grupo. Meu adjunto era Mena Barreto. O banco acabou recuperando todo seu patrimônio e o gerente foi parar atrás das grades, como deveria", lembra. Vivendo para a família Saudades, Monnerat sente de seus amigos, com quem costumava jogar um pôquer nas horas vagas. Mas desde que se aposentou tem preferido ficar distante dessa vida e mais próximo de suas netas. "No ano passado, sofri um golpe muito duro ao perder minha filha de 38 anos. Isso me abateu muito. E essa é uma das razões que me mantêm afastado do convívio dos amigos policiais. Me perguntam se tenho saudades, sim, tenho, mas preciso de tempo. Tenho andado por Teresópolis. Agora, tenho a incumbência junto às minhas netinhas, para suavizar um pouco a perda. Quero tornar a vida delas mais fácil para que não esqueçam da mãe e passem a compreender como é a vida", desabafa. A Segurança Pública hoje... Ao fazer a inevitável comparação entre a segurança pública ontem e hoje, Monnerat lembra que na antiga polícia existia um respeito maior pela hierarquia. "Os delegados eram chamados para conversar com o governador no Palácio. Eram homens que queriam ouvir as autoridades policiais cara a cara. Isso é um incentivo importante, dá o tom de seriedade que o assunto merece", acentua. Entre os 'nós' que o delegado aposentado acha que ainda precisam ser desatados, está principalmente a questão da reforma das leis. "Hoje, o preso foge mas continua tendo regalias depois que é capturado. Os direitos humanos aqui no Brasil foram interpretados de forma diferente. Uma coisa é um cidadão comum ser preso e morrer na cela por causas estranhas, outra é o Fernandinho Beira-Mar ter tratamento especial, ter acesso a advogados que trabalham para o crime. Isso é um absurdo". Antes de encerrar a entrevista, o delegado faz um pedido: "É preciso acabar com a burocracia, com os inquéritos mal feitos, com a Justiça morosa e permeável. Os delegados têm que recuperar sua posição estratégica, não podem ser relegados a casos sem importância, enquanto o Ministério Público se dedica ao ofício policial com os maiores. A culpa é da Justiça que deixou isso se incorporar de maneira absurda. Sou favorável a simplificar os trâmites e acabar com os recursos absurdos do Código Civil e da Lei Penal. Vamos fazer uma modificação geral", defende o "delegado de ouro". | |||
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