Russo
Aloísio Russo:
um modelo

Augusto Thompson*

Homem de princípios rígidos, pontificava pela firmeza de caráter. Em tudo. Desde a lealdade cristalina para com os amigos, até a disposição de arriscar a vida em prol da instituição policial. Por aqueles, ia aos mais duros sacrifícios; por esta, ponteava seus comandados numa liderança que se firmava graças a uma coragem indômita, por vezes insensata. Após ser baleado, havendo perdido um pulmão, busquei convencê-lo a pôr balizas em sua ousadia. Por que agir com tanta sofreguidão? Fitou-me demoradamente, agradecido pela preocupação de quem lhe devotava funda amizade, depois sorriu seu sorriso mineiro, respondeu: que é que vou fazer, sou assim, não dá pra mudar.
Conheci-o, ao assumir a direção do sistema penitenciário, quando contava ele vinte e poucos anos. Desejando transformar a penitenciária Esmeraldino Bandeira num estabelecimento industrial, já que lá havia um parque dotado de oficinas eficientes em termos de maquinaria, mas subaproveitado, contagiei-me pelo entusiasmo e a energia que vislumbrava naquele jovem. Confiei-lhe a missão. Creio que, nas duas gestões em que fui responsável pelos cárceres do Estado, essa foi uma das pouquíssimas vitórias conquistadas. Dava gosto, aquilo. O menino Aloísio mudou-se para Bangu, dava assistência à cadeia o dia inteiro, todos os dias, sem folga ainda nos sábados e domingos.
Na minha segunda passagem pelas prisões, trouxe-o como substituto da chefia geral. Aí, além de usufruir de sua competência e dedicação, pude com ele estreitar ainda mais os laços de amizade, através do convívio diuturno – que, na administração prisional, quer dizer dias longos, que avançam pelas noites e engolem fins de semana com freqüência. Amizade que se estendeu por toda a vida.
Estou velho. E a padecer o pior dos gravames de tal situação: a de perder as pessoas que nos são caras, com quem um bate-papo ameno remoça e alegra. Como faz falta!
Ah, meu companheiro Aloísio, como lastimo tua ausência.

* Advogado, procurador do Estado e ex-diretor geral do Desipe

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