OSCAR SOARES DE OLIVEIRA
Um exemplo para a posteridade |
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Em 21 de abril
de 1960, junto com a fundação de Brasília, extinguia-se
uma tropa de elite que grandes serviços prestou à segurança
pública do país, além de forjar policiais que fizeram
história por seu talento, competência e bnlhantismo: a
Polícia Especial (PE), criada no início dos anos 30 e
cuja atuação atravessou todo o período hoje conhecido
como Era Vargas.
O orgulho e a honra de ter pertencido a essa lendária corporação
permanece mais viva do que nunca no coração de seus ex-integrantes,
dentre eles o delegado Oscar Soares de Oliveira, que faz questão
de manter acesa a chama da tradição. Desde 1961, com a
ajuda de um grupo de ex-colegas, ele organiza um encontro anual dos
antigos PEs. “A Polícia Especial era composta por 500 homens
rigorosamente selecionados, que tinham por lema a união e a disciplina.
Quando não estávamos em ação, ficávamos
em constante treinamento, com aulas de educação física
e civismo”, recorda o delegado.
A idéia de promover a confraternização, segundo
Oscar, surgiu um ano após a extinção da tropa,
por iniciativa de Afonso Solano de Oliveira, ex-secretário de
Administração do Estado de Mato Grosso. “No primeiro
sábado de agosto, mandamos rezar uma missa no Convento de Santo
Antônio por intenção dos colegas falecidos e em
ação de graças pelos que estão vivos. Depois
fazemos um almoço na churrascaria Estrela do Sul, no Maracanã,
que se estende até as oito da noite com distribuição
de brindes e a participação das famílias. É
uma festa, para a qual vem gente de todas as partes do país”,
explica ele, resumindo o espírito do evento: “PE, quer
dizer Para Eternidade”.
Carreira começou
por acaso
Entrar para a Polícia Especial, no entanto, não era a
intenção – e muito menos o sonho – do jovem
Oscar Soares. Nascido em Barretos, interior de São Paulo, conhecida
como a “cidade dos rodeios”, ele sentira, aos 21 anos, que
a terra natal havia ficado pequena demais para suas aspirações
de vida. Com um diploma de piloto e o curso clássico completo,
desembarcou no Rio de Janeiro pensando em fazer concurso para a Força
Aérea Brasileira. Apressado em dar um rumo na vida, inclinou-se
para tentar o CPOR, mas os amigos que tinha feito na nova cidade o convenceram
a tentar uma vaga para a Polícia Especial. Seu porte físico
avantajado e o seu preparo intelectual o credenciavam para a função.
Resolveu tentar, embora a intenção ainda fosse ser piloto
de avião.
Aprovado em 20º lugar entre mais de 2 mil candidatos, Oscar foi
nomeado para a Polícia Especial em 31 de março de 1944.
Iniciava-se ali uma trajetória que marcou época na polícia
do Rio de Janeiro. Uma de suas primeiras missões como PE foi
servir no Palácio do Catete, sob ordens diretas de Gregório
Fortunato, chefe da segurança do presidente Getúlio Vargas.
Ainda servindo na Polícia Especial, ingressou na faculdade de
Direito da Universidade do Distrito Federal (atual Uerj), onde alguns
anos mais tarde formou-se. Especializou-se em criminologia e tentou
ser promotor em Goiás – naquela época, esse cargo
era ocupado através de indicação e não por
concurso público – mas, pouco tempo depois, estava de volta
ao Rio onde já tinha fincado definitivamente suas raízes.
Com o fim da Polícia Especial, fez um curso de adaptação
e foi trabalhar como “comissário de papeleta” até
que, em 1962, impetrou mandado de segurança sendo nomeado para
a nova função. “Fui o mais ativo comissário
de Copacabana, onde permaneci 12 anos”, destaca Oscar, que se
orgulha também de ter sido o policial que desativou a antiga
delegacia do Dops.
Como delegado, nomeado na turma de 1969 – da qual fazia parte
o presidente da Adepol-RJ, Wladimir Reale – Oscar Soares de Oliveira
atuou em casos de repercussão nacional como os do artista plástico
Iberê Camargo, o do francês que cometeu duplo homicídio
e o crime da família Godinho, na Urca. Coube a ele também
organizar o serviço de segurança do Banrio (depois BEG
e Banerj), que deu origem ao atual sistema de cabines.
Polícia precisa
ser respeitada
Aos 82 anos de idade e 17 de aposentadoria, Oscar Soares ostenta uma
invejável forma física e mental. Maçom há
37 anos, traz em seu vitorioso currículo uma comenda Estrela
de Distinção Maçônica por relevantes serviços
prestados à Humanidade, além de várias distinções
policiais.
Para ele, a maior dificuldade que a polícia enfrenta hoje é
a falta de credibilidade junto à população. “A
violência desenfreou, ninguém mais respeita a polícia”,
opina o delegado. E cita um exemplo interessante para justificar sua
argumentação: “Na inauguração do Maracanã,
em 1950, com mais de 200 mil pessoas dentro do estádio, o policiamento
era feito por 75 homens. Naquela época quase não havia
roubo porque a polícia era mais vigorosa e, consequentemente,
mais respeitada. Hoje a polícia não tem força e
não há as leis necessárias”, conclui Oscar.
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